O Soccer City é fantástico, mas fica sozinh no meio do
nada,
numa via que divide Johanesburgo do distrito de Soweto.
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Joanesburgo, maior cidade da
África do Sul, viveu por anos a expectativa de melhoras na condição de vida da
população, com a realização da primeira Copa do Mundo no Continente Africano,
em 2010. Quatro anos depois, no entanto, o país enfrenta problemas, como o
endividamento público e estádios ociosos, de acordo com o jornalista
sul-africano Niren Tolsi.
Ele conta que as duas arenas
construídas para receber partidas do Mundial, o Ellis Park Stadium e o Soccer
City, estão subutilizadas. O último recebe atualmente mais atividades musicais
e políticas do que partidas de futebol.
Tolsi veio ao Brasil para
participar do Encontro dos Atingidos – Quem Perde com os Megaeventos e
Megaempreendimentos, em Belo Horizonte.
O jornalista relata que os
moradores esperavam que a preparação para a Copa projetasse Joanesburgo
internacionalmente e proporcionasse mudanças na infraestrutura urbana, com o
alargamento de estradas e a multiplicação de opções de transporte coletivo.
As obras de mobilidade feitas no
país à época são úteis para a população. Porém, o Mundial foi marcado também
por denúncias de corrupção na construção dos estádios, deslocamentos forçados
de famílias, aumento da repressão policial e expulsão de moradores de rua e de
vendedores ambulantes das áreas centrais de Joanesburgo, segundo o jornalista.
“A Fifa foi embora com R 25
milhões [R é o símbolo de rand, moeda oficial da África do Sul] de lucro e o
país ficou endividado”, lamentou.
Tolsi vê semelhanças entre os
problemas apontados pelos movimentos sociais no Brasil e o que ocorreu, há
quatro anos, em seu país. Com a mobilização dos movimentos sociais e populações
atingidas pelos grandes eventos, ele espera que “essa lógica mude e que a Fifa
tenha que parar de agir em outros países, como faz hoje, trabalhando a favor
das corporações, colocando em questão a soberania nacional”.
O Mundial na África do Sul também
não aqueceu o mercado de trabalho, como previsto, por causa da crise financeira
que abala a Europa, de onde sairiam muitos dos turistas que o país esperava
receber em 2010.
Não somente na África do Sul, a
população ficou desapontada com o legado deixado por grandes eventos. A
ativista grega Chará Tzouna avalia que os empréstimos tomados para a realização
das Olimpíadas de 2004 intensificou o problema econômico que o país já
vivenciava. “Há 30 anos, já tomavam empréstimos para viver. Nas Olimpíadas,
criaram mais empréstimos para construir edifícios e estádios, que não conseguem
se manter. Além das dívidas, ficamos com elefantes brancos”, diz.
Para Chará Tzouna, a organização
popular foi um dos pontos positivos do evento esportivo. “Houve o crescimento
da participação e da organização política. As pessoas estão tentando recuperar
espaços públicos que foram privatizados ou que estão inativos”, disse.
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